19.2.10

O laço de fita


Não sabes, criança? 'Stou louco de amores...
Prendi meus afeto, formosa Pepita.
Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me
Num laço de fita.

Na selva sombria de tuas madeixas,
Nos negros cabelos da moça bonita.
Fingindo a serppente qu'enlaça a folhagem,
Formoso enroscava-se
O laço de fita.

Meu ser, que voava nas luzes da festa,
Qual pássaro bravo, que os ares agita,
Eu vi de repente cativo, submisso
Rolar prisioneiro
Num laço de fita.

E agora, enleada na tênue cadeia,
Debalde minh'alma se embate, se irrita...
O braço, que rompe cadeias de ferro,
Não quebra teus elos,
Ó laço de fita!

Meu Deus! As falenas têm asas de opala,
Os astros se lebram a plaga infinita.
Os anjos repousam nas penas brilhantes...
Mas tu...tens por asas
Um laço de fita.

Há pouco voavas na célere valsa
Na valsa que ensaia, que estua e palpita.
Por que é que tremeste? Não eram meus lábios
Beijava-te apenas...
Teu laço de fita.


Mas aí! findo o baile, despindo os adornos
N'alcova onde a vela ciosa...crepita,
Talvez da cadeia libertes as tranças
Mas eu...fico preso
No laço de fita.

Pois bem! Quando um dia na sommbra do vale
Abrirem-me a cova...formosa Pepita!
Ao menos arranca meus louros da fronte,
E dá-me por c'roa...
Teu laço de fita.

(Castro Alves)